A formação humana é uma das questões que sempre devemos relembrar em nossas reflexões. Ao refletir sobre formação humana, sempre devemos meditar o belo diálogo de Jesus com a Samaritana. (Jo 4,1-29). A formação humana que aconteceu pela interação.
Respondeu-lhe Jesus: Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma água viva. (Jo 4,10)
Vamos pedir ajuda de um psicólogo que marcou a história para aprofundarmos sobre a interação? Lev Vygotsky nos ensina que a Psicologia sempre se encarregou de investigar e explicar o nível de desenvolvimento real do indivíduo. Ele chama de “desenvolvimento real” o estado atual do sujeito e as estruturas interiores que ele já possui, que já foram construídas. A existência desse sujeito, revelada no cotidiano de suas experiências e vivências, proporcionarão a oportunidade de construir novas estruturas.
Essas novas estruturas, possíveis de serem construídas, estão dentro do que ele chama de“zona de desenvolvimento proximal ou potencial”, que é outro nível de desenvolvimentoque, tanto quanto o nível real, deve ser considerado na formação do sujeito. Portanto, o nível de desenvolvimento de uma pessoa não pode ser determinado apenas pelo que consegue produzir em sua realidade real, mas o que ela poderá realizar com suas potencialidades identificadas e apreendidas.
Claramente, é possível fazer uma comparação entre o diálogo de Jesus com a Samaritana e o ensinamento de Vygotsky. Jesus a encontrou em seu estado de “desenvolvimento real”, mas no encontro, a interação e o diálogo fizeram com que despertasse o que ainda estava na “zona de desenvolvimento proximal ou potencial”. Ela desejou ter uma nova vida.
Para Vygotsky, a condição humana não está associada somente à dimensão biológica da existência. A formação humana, bem como o seu desenvolvimento, se faz na interação com o meio, com o ambiente, na convivência com os seus pares e no diálogo. Não é possível que o ser humano se desenvolva sozinho, pois as aprendizagens necessárias à formação acontecem pela interação, o que caracteriza o processo educacional, seja ele formal ou informal. Pela interação, o sujeito participa de seu mundo, de sua história, de seu tempo. Nessa condição, ele descobre e desenvolve sua condição de pessoa, sendo capaz de sintonizar e vincular suas ações ao mundo.
Para Vygotsky, a aprendizagem necessária à formação e ao desenvolvimento humano acontece na zona de desenvolvimento proximal. Justifica-se a importância da interação, da convivência, da troca de experiências, pois, nas relações com o outro, estão as condições de construir suas próprias estruturas psicológicas. Já possuindo habilidades parciais na convivência com os seus pares mais habilitados, que chamamos mediadores, estas habilidades parciais passarão para habilidades totais. Foi isso que aconteceu com a Samaritana!
Neste sentido, Vygotsky nos convoca atuar, pela Educação, nas potencialidades ainda não desenvolvidas totalmente, mas que podem vir a ser, dependendo das relações, experiências e interações. Daí a importância do mediador, o qual será exemplo, o referencial e o modelo. O próprio Jesus nos deixou essa grande lição: “Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós.” (Jo 13,15)
Pedagoga, Mestre em educação e Doutora em Filosofia. Especialista em Educação a Distância e Administração Escolar, Teóloga pelo Centro Universitário Claretiano. Professora da Universidade Estácio de Sá. Coordenadora da Pastoral da Educação e da Catequese na Diocese de Itaguaí (RJ)
Fonte: https://www.a12.com/redacaoa12/igreja/interacao-o-segredo-da-formacao-humana